15 março 2009

Carnaval milionário

Revista Visão, 12 de Março de 2009, pág. 86
Em tempos de crise é reconfortante saber que vivemos num concelho rico onde não se olha aos tostões para sermos, sempre, os melhores, ou os maiores, a gastar em festas e animação.
O único senão é que o dinheiro que se gasta e desaparece rapidamente, é dinheiro que mais tarde ou mais cedo fará falta noutras áreas, provavelmente de maior utilidade.
“Carnaval milionário” é o título que a revista Visão aplica na última edição de 12 de Março para os 20 mil euros que Rita pereira veio ganhar como rainha do corso de Vila Real de Santo António.
Mas não foi só a artista de telenovelas que facturou bem. A empresa Estratégia cobrou 55.073,70€ pela prestação de serviços para “contratação da Rainha do Carnaval, actuação de banda no Trio Eléctrico, comunicação do evento em diversos meios e aluguer do Trio Eléctrico para o Carnaval do Município de Vila Real de Santo António”.
Mas a música não ficou apenas por aí. O “aluguer de som” para o Carnaval custou ainda mais 24.700€, serviço prestado por uma empresa local.
O aluguer da tenda montada na Praça Marquês de Pombal por outra empresa local custou apenas 24.750€, uma bagatela.
Reconhecemos que temos alguma dificuldade em contar tanto euro. Pela moeda antiga estas pequenas despesas somam cerca de 20 mil contos. A construção dos carros andou perto dos 30 mil contos, pagos pela empresa municipal SGU. No total lá foram mais 50 mil contos para animação.
Os cofres da autarquia de Vila Real de Santo António parecem não ter fundo.

14 março 2009

Comemorações do Dia da Mulher custaram mais de 180 mil euros


As comemorações do Dia da Mulher terão custado aos cofres públicos da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António a importância astronómica de 181.552 euros, de acordo com os dados disponíveis na base de dados governamental dos ‘ajustes directos’.

Com efeito, se o Salão de Beleza que funcionou no Centro Cultural António Aleixo se ficou por 22.600 euros, já o espectáculo de Tony Carreira consumiu a parte de leão – 158.952 euros. O projecto do salão foi da responsabilidade da empresa Estratégia, especialista na organização de ‘eventos culturais’.

A actuação de Tony Carreira terá custado 144.500 euros (três ‘ajustes’ de 45.000€ e um de 9.500€ - na imagem), a que acrescem 13.000 euros de custos de logística – alugueres de “montagem, desmontagem e transporte” de palco e outros equipamentos -, repartidos em partes iguais pelas empresas ‘Eurico Vieira’ e ‘Guadisom’. O valor mais baixo dos custos correspondeu à ‘UEM’ pelo aluguer e instalação de camarins e WC – 1.452 euros.

A organização do espectáculo esteve a cargo da Zuribidana – Animação, uma jovem empresa vila-realense que em poucos meses de existência, a não haver engano nos valores disponibilizados, já facturou à empresa municipal SGU 156.600 euros.



12 março 2009

ICNB alerta para lacunas do Plano de Pormenor da Zona do Cemitério

Planta de implantação do PPZC

O Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade emitiu um parecer favorável à proposta de plano de pormenor da Zona do Cemitério de Vila Real de Santo António salientando, contudo, a absoluta “pertinência de assegurar a qualidade da paisagem e do espaço urbano e o planeamento sustentável urbano”. O ICNB considera que na generalidade o documento cumpre a legislação em vigor embora necessite de ser melhorado em alguns aspectos.

No relatório daquele instituto aponta-se “a ausência de enquadramento da proposta, num estudo mais abrangente como, por exemplo, num plano de Estrutura Verde Urbana, devidamente articulado com a Estrutura Ecológica Municipal prevista no âmbito do Plano Director Municipal, em revisão”. O documento acrescenta que se constata a falta de uma “quantificação dos espaços verdes, em relação ao todo da EVU, ou mesmo a ponderação sobre a carência ou não desses espaços, restringindo a abordagem em termos de espaços verdes urbanos”.

Outra crítica formulada à proposta de PPZC é a inexistência de dados hidrológicos, à escala da área de estudo, “necessários para avaliar com exactidão o risco de inundação na área de intervenção”. Tal lacuna motivou uma ‘recomendação’ no sentido de "ser estudada a situação e elaborada uma ‘carta de zonas inundáveis’ para o perímetro urbano da cidade de Vila Real de Santo António”.

O parecer refere ainda que, de um ponto de vista ambiental, o próprio desenho urbano da área abrangida pelo plano de pormenor deveria enquadrar as questões relativas à sustentabilidade ambiental – eficiência energética dos edifícios, aproveitamento da energia solar, tratamento dos resíduos sólidos urbanos -, integração que não se verifica.

10 março 2009

Parecer da CCDRA questiona excesso de volumetria no PPZC

A Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve emitiu um parecer favorável ao Plano de Pormenor da Zona do Cemitério de Vila Real de Santo António mas condicionado à necessidade de ponderação e correcção de alguns aspectos que considerou desajustados.

Na perspectiva da CCDRA, a proposta de PPZC apresentada pela autarquia vila-realense, “cumpre as normas legais e regularmente aplicáveis, carecendo, contudo, de ser corrigida e completada, em questões de pormenor indicadas, as quais não alteram o conteúdo material da proposta”. No entanto, para aqueles serviços regionais, o plano “não é compatível, nem conforme com o PDM em vigor, aspectos que a CM de VRSA assume como opção e que serão considerados em sede da revisão do PDM em curso, sem colocar em causa a conformidade com o PROT Algarve”.

No parecer destaca-se a fundamentação adequada das soluções técnicas defendidas pela Câmara Municipal, mas questiona-se “a volumetria de 7 e 8 pisos preconizada, face à morfologia, à métrica e ao perfil da cidade de VRSA, bem como devido à proximidade do Núcleo Pombalino e à criação de um troço de Frente Ribeirinha com uma altimetria de construções que parece excessiva.”

Na conclusão do parecer, entre muitos outros aspectos, refere-se que a proposta do plano não é transparente no modo como "e em que termos são cedidas áreas ao município".

Finalmente, a CCDRA reconhece que a planificação do território é uma competência da CM e salienta que “cabe à mesma assumir as opções tomadas, responsabilizando-se pelos impactes destas”.

08 março 2009

No Dia Internacional das Mulheres - um poema de Natália Correia

Queixa das almas jovens censuradas

Dão-nos um lírio e um canivete
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola

Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade

Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência

Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro

Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós

Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo

Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro

Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco

Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura

Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante

Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino

Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte

in "O Nosso Amargo Cancioneiro"

05 março 2009

Muralha de betão com 26 metros de altura na Avenida da República

Perfil da Rua de Angola
A Câmara Municipal de Vila Real de Santo António prepara-se para aprovar o Plano de Pormenor da Zona do Cemitério que prevê a construção, em toda a frente ribeirinha norte da Avenida da República, de prédios de 8 pisos - uma muralha de 26 metros de altura.
A AMA - Associação dos Amigos da Mata e do Ambiente deu o seu contributo para a discussão pública, alertando para a violação clara do Plano Director Municipal, que consagra aquela área como zona industrial.
De acordo com a AMA, o PDM prevalece sobre qualquer plano de pormenor pelo que seria aconselhável, além de prioritário, proceder-se à revisão do PDM numa perspectiva integrada e clarificadora das regras relativas à ocupação de solos para todo o território municipal.
O parecer da AMA, que pode ser lido aqui, contesta frontalmente a opção da autarquia que desfigurará para sempre o equilíbrio arquitectónico existente na principal e mais nobre artéria da cidade pombalina.