30 junho 2018

MERCADOS E MERCADORES





Dos Jornais
VRSA: autarquia inicia obra de remodelação na cobertura do Mercado Municipal
Primeira fase de requalificação do Mercado Municipal de VRSA está concluída.

O Srº Vice-Presidente afirma por seu turno:
A OBRA “CORRESPONDE A UMA AMBIÇÃO HÁ MUITO DESEJADA, DANDO MELHORES CONDIÇÕES A QUEM COMPRA, A QUEM VENDE E A QUEM NOS VISITA”, EXPLICA O VICE-PRESIDENTE DA AUTARQUIA DE VRSA, LUÍS ROMÃO. “POR OUTRO LADO, QUEREMOS TORNAR O MERCADO MAIS ATRACTIVO E MAIS DINÂMICO PARA QUE AS PESSOAS REGRESSEM A ESTE ESPAÇO QUE SERÁ, NO FUTURO, NÃO SÓ UM PONTO DE COMÉRCIO, MAS TAMBÉM DE LAZER E ESTADIA”, AFIRMA O AUTARCA.

A realidade porém é outra. É de lamentar a cegueira de querer de tudo tirar partido político e fazer propaganda grandiosa do mais pequeno e corriqueiro acto.
Afinal a montanha pariu um rato e perdeu-se a oportunidade, em nosso entender, de fazer uma reforma a sério do Mercado Municipal.
O texto que se publica da autoria do Srº ATacão esclarece técnicamente e não só as vicissitudes da obra e desmonta a auto-propaganda feita.
AMA

Mercado Municipal

Análise Critica á “Requalificação Mediática”

Generalidades
O Mercado Municipal de V.R.S.A. é, seguramente, o pior de todos os mercados activos do Reino dos Algarves. Este provável estatuto permitir-lhe-ia, na senda da promoção da nobilidade ensaiado pelo anterior califado, candidatar-se a património mundial desmaterial da mediocridade.
A sua provecta idade de cerca de quatro décadas, aliada á mais ignominiosa incúria das autarquias que provêm da sua génese, mais o assemelha a um equipamento de concepção/utilização medieval. Contudo esta vetusta idade nada é, comparando-a com a do recentemente REQUALIFICADO mercado de Olhão.
O seu declínio mais se acentuou com o inenarrável reinado do sátrapa Gomes e suas rémoras correligionárias, (i)rresponsáveis pela gestão do pelouro durante o último decénio, e a que consagraram o mais ignóbil e sobranceiro desprezo.
Como corolário do atrás exposto, aliado ao inevitável desgaste e á obsolescência do equipamento, justo é salientar que a um Luís Romão, bom de bola e exímio contorcionista, mas parco de engenho, esgotado este na arte da promoção dos bens metafísicos e da elaboração meticulosa de biografias sobre o emparelhamento dos átomos, e a quem o termo projecto, escutado pela primeira vez, lhe cause a confusão não étima mas fonética com dejecto, lhe saiu um presente anunciadamente envenenado.
De entre as suas incontáveis maleitas sobressai notavelmente a constituição material da sua cobertura em fibrocimento, que aglutina resíduos de amianto.
A proibição legal da sua utilização, longe de constituir um “ambicionado anseio da população”, remonta já ao longínquo ano de 2005 (DL n.º 101), e a obrigação da sua remoção, ao ano de 2007 (DL n.º 266), pelo que peca por tardia a recente iniciativa de promover obras para a sua consumação.
Outro problema de extraordinário impacto e semelhante dimensão, é o que configuram as redes prediais de águas residuais (despojos orgânicos resultantes da manipulação do pescado) e pluviais, tanto no que concerne á sua deficiente concepção original, como ao desgaste e desactualização (subdimensionamento) dos materiais e calibres em uso.
A temida austeridade, e provavelmente a superior ignorância acerca da incomensurável valia dos recursos humanos internos (entenda-se o fecundo quadro de técnicos superiores), pode ter levado o vereador a abdicar ou melhor a claudicar na necessidade de elaboração de projecto, para a execução da hilariante obra de “requalificação do mercado”, trocando-o por uma profusa e patética publicidade nos media, e surpreendentemente alterando a politica de contratação elitista praticada anteriormente, de forma opaca e contumaz, mas com evidentes contornos de inocultável cumplicidade, pelo melífluo Delapidador-Mor dos fundos, dos espaços e da honorabilidade pública.  

Factualidades
(em forma de decálogo)

1 – A planta que se supunha corresponder ao Levantamento Arquitectónico do Mercado mente, ao considerar a existência de dois conjuntos sanitários, quando na realidade não é mais que unicamente um.
2 – Dispensa comentários a notável intervenção levada a efeito no mesmo.
3 – A remoção das placas de fibrocimento foi, seguramente feita á revelia dos procedimentos de segurança legalmente exigidos e sem o conhecimento da Autoridade para as Condições do Trabalho.
4 – Os painéis de substituição deveriam ter forra térmica interna, com espessura compatível ás altas exposições solares, de incidência quase vertical em períodos de solstício, face á suave inclinação das águas da cobertura.
5 – O acrílico, ou seu sucedâneo, utilizado nos lanternis zenitais, deveria integrar uma película de obscurecimento transparente interno, de forma a eliminar reflexos e excessos de luminosidade, com perturbações na leitura dos monitores digitais das balanças.electrónicas
6 – O nível de intervenção nesta zona da cobertura mereceria uma melhor solução que a adoptada para eliminação dos tubos de queda das águas pluviais, que vinham caindo internamente, contornando grotescamente os capitéis das colunas do foyer. O ramal suspenso em PVC agora utilizado, pode vir a ser eficaz, mas por si só, é um elemento estético intrusivo e chocante. A oportunidade seria excelente para melhorar as condições de arejamento transversal das naves.
7 – A aplicação, sem aparente critério, da monomassa asfáltica no pavimento foi irremediável e duplamente catastrófica.
8 – Sem projecto, e confiando na “sábia experiência empírica” da empresa executante, não foi feito e indispensável levantamento topográfico das caixas de pavimento, e prescindiu-se misteriosamente de fiscalização e acompanhamento.
9 - Não se definiram previamente a orientação das pendentes transversais. Não se providenciou a abertura de sumidouros longitudinais a eixo dos percursos de circulação, causando um permanente lençol de inundação dos mesmos, nas zonas particularmente mais sensíveis do contacto com as bancas de venda e reduzindo drasticamente a altura de confronto público.
10 – A prometida intervenção nas mesmas, abstraindo-nos dos danos causados pela sua redução altimétrica, seria obrigatoriamente a do seu revestimento superior em chapa inoxidável, á semelhança do que foi, exemplarmente, praticado por alguns vendedores, e usuais em todos os mercados nacionais. (higiene dixit).    


ATacão






22 junho 2018

AS GUERRAS E AS VÍTIMAS


O "monumento" aos combatentes da Guerra Colonial rebaptizada politicamente de "guerra do ultramar" e colocado na rotunda de Cacela é pífio, triste e não tem a dignidade que os jovens nela falecidos merecem. Sobre o assunto já expressamos a nossa opinião neste blogue.
No entanto outras opiniões saem a público, e divulgamos esta pelo seu conteúdo e oportunidade.
AMA

Esclarecimento despretencioso
Qualquer medianamente alfabetizado membro duma vereação, com independência de exibir qualquer pedante erudição histórica, deveria saber que o termo Guerra do Ultramar, utilizado para evitar eufemísticamente referências ou conotações ao Império Colonial Português, desde logo o mais antigo dos impérios coloniais da Europa, após a conquista de Ceuta em 1415, foi uma designação inventada e usada pelo regime salazarista e seus imediatos sucedâneos, até á inevitável correcção, ocorrida após a Revolução de Abril.
Como tal, a patética argumentação utilizada pelos proponentes á consagração da efeméride monumental, ainda que sob o inadequado título de “topónimo”, mais não é do que uma inábil tentativa de ocultação de reminiscências saudosistas do ancião regime, sob a forma mal conseguida de revisionismo histórico.
Num vergonhoso contraste com aprovação autárquica da proposta, do seu absurdo conteúdo e do chocante miserabilismo da solução construtiva, veja-se, ao invés, salutares exemplos de verdadeiras homenagens erigidas em concelhos vizinhos.
Um ex combatente (não antigo portanto) da Guerra Colonial Portuguesa em África

A Tacão






09 junho 2018

AS ANDANÇAS DA AUDITORIA



Esta semana, no dia 5 de Junho, assistimos a mais uma cena na câmara municipal digna de uma ópera-bufa. A auditoria pedida pela oposição para se examinar as contas camarárias, como seria de esperar, não passou. Diz o ditado “quem não deve, não teme” pelo que quem deve teme, pode-se concluir.
O vendedor de jornais Chavelhita, figura típica e filósofo popular de há umas décadas atrás, disse a respeito de umas contas que “as contas estavam certas, faltava era o dinheiro”.
O mesmo se pode dizer das contas de VRSA, parecem estar certas, faltam só 152 milhões de euros (dívida oficial da câmara e SGU juntas), segundo afirmou na reunião de câmara desta semana a sua presidente.
O Revisor Oficial de Contas encarregado de verificar as contas da Câmara ofereceu-se para explicar aos vereadores as contas apresentadas pelo executivo. Recusou-se porém a “esclarecer” os vereadores caso fossem acompanhados por especialistas na matéria quer dos seus partidos quer técnicos da sua confiança. Estranho, os vereadores não têm de ser obrigatoriamente especialistas em contabilidade ou finanças.
Este senhor revisor foi imposto na reunião com a qual nada tinha a ver pela Srª Presidente e apoio dos outros vereadores PSD.
Tal parece mais um estratagema e uma desculpa para sabotar qualquer exame às dívidas camarárias da parte do actual executivo São Cabrita/Luis Romão, e o argumento de que a Câmara devido ao PAEL  (Programa de Apoio à Economia Local) e FAM (FUNDO DE APOIO MUNICIPAL) impostos à autarquia obriga que esta seja quase mensalmente controlada não convence, dado que não se vê no concreto mudanças na acção despesista camarária.
Invocar argumentos de que seria moroso e de elevados custos uma auditoria aos últimos 16 anos não deixa de ser espantoso. Então foram 16 morosos anos despesistas sem qualquer rebate de consciência e só agora existe preocupação com uma despesa para clarificar como tal foi possível?
Com os 3 votos a favor da oposição a proposta de auditoria foi recusada com os 4 votos PSD.
 Afinal para que servem as eleições se aos eleitos se nega a prestação de contas?
Como já dissemos o problema não é técnico, é político. Por exemplo, as contas das viagens camarárias a vários continentes podem estar certas, isto é estarem lá todas as despesas com hotéis, viagens, refeições etc. Mas quem autorizou tais despesas? , havia dinheiro para as mesmas? , Justificavam-se? , quais os benefícios resultantes para o concelho? Ou não passou de turismo político?
Não se tem pago a água fornecida ao concelho pela Águas do Algarve por haver um diferendo que prejudicaria o concelho? Então o que foi feito ao dinheiro pago pela população pelo consumo da água mais a taxa pesada sobre a mesma? Foi sendo depositado num banco para se pagar na altura oportuna o fornecimento de água ao concelho?, ou se gastou indevidamente noutras despesas que nada tinham a ver com o assunto? Quanto se gastou com escritórios de advogados para defender a câmara em tribunal contra as Águas do Algarve?. O que ganhou a população do concelho com esta situação?
É para isto que serve uma auditoria, não é uma questão de Deve & Haver, as contas podem estar certas mas politicamente serem uma fraude. A população de VRSA tem o direito de saber qual a causa de tão escandalosa e grave dívida. A democracia tal exige, e os eleitos têm o dever de exigirem tirar a questão a limpo.

“Mudam-se os tempos mudam-se as vontades”, escreveu Camões, agora talvez diria “Mudam-se os tempos, mudam-se os negócios”. O povo de VRSA dizia “que o falar vai dos queixos”, isto a propósito de pessoas que em 2006 pediam auditoria quando estavam na oposição e agora no poder já não querem. Porque será?




AMA

28 maio 2018

PEDITÓRIO AMBIENTAL E PAISAGÍSTICO


Parece que os repuxos da marginal não funcionam porque falta uma peça, cara (?), 18 mil euros.

Para recordar como era.

Tendo em conta que a câmara parece falida, coitada, propomos um peditório público para se comprar a peça. Estamos seguros que a população corresponderá generosamente para voltar a usufruir  a beleza da água a elevar-se na Avenida da República que ficará assim mais bonita.
Não acreditamos que a degradação seja propositada para justificar que ali seja colocado um mamarracho qualquer, um quiosque "pestana", ou uma tenda de chapéus de palha.
Para além do peditório poderiam pedir ao senhor que cantou em Monte Gordo por 11.000 euros para cantar de borla num espectáculo pago cuja receita reverteria para ajudar a compra da peça.
AMA

13 maio 2018

AS PALAVRAS REVELAM MESMO QUANDO ESCONDEM


DIA 13 DE MAIO DE 2018 244º ANIVERSÁRIO DA FUNDAÇÃO DE VRSA
Faz parte da comemoração da data o baptismo da rotunda de Cacela.
 Informa a Câmara que após a sessão, às 13h00, será feita a atribuição de toponímia à rotunda de Vila Nova de Cacela, numa homenagem aos «Antigos Combatentes do Ultramar».


História já longa as peripécias que têm envolvido esta rotunda. Recordamos algumas.

"Jaz morto e arrefece o menino de sua mãe", escultura de 1973 sobre a GUERRA COLONIAL, de Clara Menéres falecida dia 10 de Maio de 2018



Palavras do Capitão de Abril, Vasco Lourenço, em VRSA numa iniciativa sobre o 25 de Abril promovido pela LIGA DOS AMIGOS DA GALERIA MANUEL CABANAS
"os que falam de guerra do ultramar são os saudosistas do passado". 
Acrescentamos nós, para evitarem reconhecer que foi uma Guerra Colonial praticada por um governo ditatorial e fascista.
As palavras nunca são inocentes.

História já longa as peripécias que têm envolvido esta rotunda. Recordamos algumas.


À população da Freguesia de Vila Nova de Cacela
Porque é necessário avivar a memória!
  
Todos estão lembrados de que o PCP foi a única força política que teve a iniciativa de fazer alguma coisa face à justa reivindicação da população da Freguesia quanto à construção da Rotunda na EN 125. O abaixo-assinado, entregue na sessão de Câmara realizada em Cacela, e a “Rotunda Humana” iniciativa que contou com duas centenas de pessoas e com notícia na comunicação social, são disso exemplo.
 E pela parte do PCP, asseguramos às populações da Freguesia que não desistimos! É uma pequena obra de baixo custo, mas grande no que se propõe resolver. E o que fez o Governo PS, e a Câmara PSD? Até agora nada, e mais um verão se aproxima, tornando ainda mais caótica e perigosa a EN 125! 
Preocupações para inglês ver… 
Só uma profunda hipocrisia, e eleitoralismo doentio, é que faz com que alguns deputados do partido do Governo, se façam fotografar em Cacela “preocupados” com a Rotunda, quando o seu governo, não só não mexeu uma palha, como recusou a proposta do PCP de contemplar no PIDDAC, esta obra. Só falta aparecer o Presidente da Câmara mais os deputados do PSD a fazer a mesma coisa. Como se costuma dizer, a culpa morre sempre solteira…
Acentua ainda mais a hipocrisia destes senhores deputados, quanto é verdade que o PS agora no governo, esteve no anterior mandato na Câmara. Porque não fizeram esta obra? Porque entendiam que deveria ser o governo do PSD? É preciso ter muita lata…
 Lavar as mãos como Pilatos
É exactamente o que a Câmara PSD faz, ao endossar para o governo a responsabilidade de fazer a Rotunda, dizendo que não é da sua competência… Então, como é que ficamos com as promessas eleitorais do sr. Presidente Luís Gomes do PSD?
E como justifica o facto de a Câmara estar a fazer Rotundas em Vila Real de Santo António? Que prioridade têm face à de VN de Cacela? 
22/06/2007

2 Aniversario da Liga dos Combatentes VRSA 05-08-2009

O Secretário-Geral da Liga dos Combatentes, Coronel Adalberto Travassos Fernandes presidiu às cerimónias comemorativas do Aniversário do Núcleo da Liga dos Combatentes em Vila Real de Santo António
ma exposição fotográfica, sob o tema "Memória.
No âmbito das cerimónias foi inaugurada uma exposição fotográfica, sob o tema "Memórias da Guerra" - Portugal: Honra a Sacrifício, tema referente à Primeira Grande Guerra. Esta exposição esteve patente ao público no Centro Cultural António Aleixo, de 28 de Julho a 05 de Agosto. Destaca-se a excelente organização do Núcleo de VRSA e seus associados, bem como o apoio do Museu da Liga dos Combatentes. O Secretário-geral referiu-se publicamente e de improviso à efeméride na sessão solene, perante a Direcção do Núcleo, associados, Vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, vereadora da Cultura e outros autarcas daquela região. Agradeceu o apoio da CM de Vila Real de Santo António à Liga dos Combatentes e louvou a ideia da construção de um Monumento aos Combatentes de VRSA, a suportar por aquela autarquia sob a orientação e simbologia da Liga dos Combatentes.

Passaram 9 anos e o tal monumento onde está? E, acrescentamos nós outra vez, para quando uma homenagem aos democratas vila-realenses que lutaram contra o fascismo e pela democracia antes do 25 de Abril ?
AMA

08 maio 2018

O FALAR VAI DOS QUEIXOS





A Srª Conceição Cabrita deu no dia 2 de Maio uma entrevista surrealista ao Sul Informação. Repete à exaustação argumentos já desmentidos inúmeras vezes mas insiste na esperança de que martelando as cabeças por cansaço dos outros se transformem em verdades.
Cortar «algumas gorduras», renegociar a dívida à banca e alienar património, caso haja investimento privado envolvido. Estes são os pilares da política financeira que está a ser posta em prática por Conceição Cabrita, eleita em Outubro para o seu primeiro mandato enquanto presidente da Câmara de Vila Real de Santo António.
Esta introdução à entrevista feita pelo Sul informação diz tudo, é uma síntese perfeita da desgraça anunciada que aí vem.
Cortar gorduras?, quais? só se forem nas contratações bem remuneradas que parecem pagamento de favores. O que se vê é um esqueleto só pele e osso.
Quando andaram 12 anos a engordar a dívida nunca pensaram que teria de ser paga? A irresponsabilidade choca, a insensibilidade face ás consequências previsíveis para a população impressiona.
Alienar património municipal com que direito? Foram séculos em que sucessivas gerações foram acumulando património público para uso e usufruto da população e agora é posto em leilão para pagar dívidas de i uma gestão ruinosa e insensata.
Uma vez nas mãos de privados não terá retorno. Os 12 anos de esbanjamento o que deram? Melhorou VRSA? Vai tudo a eito: água, saneamento, estacionamento, edifícios históricos, áreas de mata, parque de campismo etc. O que fica?
A forma leviana como se refere à dívida assusta, é de 76 milhões mas tem vindo a diminuir. Coisa pequena como se vê. Então queriam ainda aumentar a dívida? A pergunta é com se chegou a ela (e não esquecer que a SGU deve outro tanto). Anualmente do orçamento do estado vem dezenas de milhões para a autarquia, mesmo assim ainda foi necessário a intervenção do PAEL e do FAM com 43,9 milhões de euros para evitar a falência. Há quantos anos a AMA tem vindo a denunciar as contas camarárias através das análises do Moço de Vila Real?
Baixar despesas significa diminuir serviços à população.
Boa piada a da "introspecção", teria sido feita em algum retiro religioso? Vem dizer agora que é diferente do Luís Gomes, fora o físico é diferente em quê? Não apoiou e votou tudo ao lado dele ou estaria distraída. Não confessa que não  "me arrependo do que fiz"?
Continua a afirmar que encontraram uma dívida de 30 milhões da gestão do PS, não provada e desmentida, mas volta à carga.
"Matámos a fome a muita gente", afirma, "substituímo-nos ao Estado". Será que os municípios já não fazem parte do Estado? Só fizeram o seu dever, cuidar da população, é para isso que recebem transferências dos impostos que todos pagamos. Ou será que pagaram tais despesas do seu bolso?
Pasmem, se não fosse este par - Luís Gomes e São Cabrita, VRSA "praticamente ninguém conhecia". É preciso ter lata. Verdade seja dita que VRSA tem sido muito falada ultimamente como exemplo de má gestão autárquica, do cantor ex-presidente e coisas assim.
"O Sul informação vai lançar, nos próximos dias, mais artigos resultantes da entrevista de fundo feita a Conceição Cabrita". Ficamos à espera, por este já se vê o que a casa gasta.
AMA

05 maio 2018

ESPANHAS OU FEDERAL OU CONFLITOS

Catalunha em conflito político, o País Basco mexe de novo, a Galícia não se sente bem na sua pele. São os conflitos mais visíveis de um país que só com a federação dessas "nações" poderá apaziguar tensões. O artigo de Manuel Loff é um olhar diferente sobre a ETA e a Espanha.
MC



ETA, o fim
O terror da ETA foi, em todo o caso, o pretexto ideal para o terror do Estado.
5 de Maio de 2018  MANUEL LOFF

Sete anos depois da sua declaração unilateral de "fim definitivo da violência armada", a ETA dissolveu-se. Nascida em 1959 entre os filhos da Guerra Civil espanhola (1936-39), em meios católicos nacionalistas, os seus fundadores fizeram a trajetória comum a muitos católicos progressistas e a grande parte da esquerda de origem não marxista dos anos 60: entre o Vaticano II e o anticolonialismo triunfante, revoltaram-se contra a cumplicidade da hierarquia católica com o Franquismo e levantaram a bandeira do direito à autodeterminação; a repressão ajudou a que assumissem a opção armada, de inspiração guevarista e/ou maoísta, rompendo com o nacionalismo basco histórico e rejeitando juntar-se ao PCE e às Comisiones Obreras que então mobilizavam o pulmão industrial do País Basco. Quando a ETA mata, em 1968, o torturador Melitón Manzanas e, em 1973, o chefe do governo de Franco, Carrero Blanco, toda a oposição democrática espanhola se sentiu vingada. Mas quando a crise do regime franquista abriu portas à transição pós-autoritária, que restaurou a autonomia do País Basco espanhol e de Navarra, tudo mudou. Ou deveria ter mudado.

As duas fações em que se dividiu em 1974 (ETA Militar e ETA Político-Militar) rejeitaram a amnistia de 1977 e prosseguiram a luta armada: das 829 vítimas mortais da ETA, 37% correspondem aos anos da transição e apenas 9% ao período franquista. A ETA(pm) acabaria por abandonar as armas nos anos 80 e a maioria dos seus membros entrou no PSOE. Pelo seu lado, a ETA(m) continuou a matar enquanto a Espanha vivia sob a ameaça golpista de militares e polícias que não foram democratizadas e cujos crimes nunca foram julgados, e onde os governos (da UCD e do PSOE) não hesitaram em usar a guerra suja contra uma parte da esquerda basca através de organizações como o Batallón Vascoespañolou os GAL, matando 67 pessoas.
Se alguém esperava que a chegada dos socialistas ao poder pudesse contribuir para a paz no País Basco – o PSOE havia chegado à transição com um projeto federal para a Espanha a que renunciaram –, a realidade foi a oposta. Os governos de Felipe González (1982-96) lançaram-se abertamente na guerra suja, recrutando, entre outros, mercenários em Portugal, com a evidente cumplicidade das nossas autoridades, para disparar contra exilados bascos em França (homenagem a Celestino Amaral e a Joaquim Vieira pela investigação que então levaram a cabo no Expresso). Pelo seu lado, a ETA(m) entrou na mais alucinada campanha de terror, matando civis no Hipercor de Barcelona (1987) ou reclamando aquilo a que chamou a "socialização do sofrimento": quanto mais difícil se lhe tornava atentar contra polícias e militares, mais passou a atacar dirigentes políticos e simples vereadores municipais. O terror da ETA foi, em todo o caso, o pretexto ideal para o terror do Estado: guerra suja, tortura nas prisões, criminalização/ilegalização de partidos políticos, associações, escolas, órgãos de imprensa...
O 11 de Setembro e os massacres salafistas de 11 de março de 2004 em Madrid (que Aznar, a três dias de eleições, procurou desesperadamente atribuir à ETA) vieram mudar de forma muito evidente a perceção social da (i)legitimidade da violência política e marcaram definitivamente a cisão entre o mundo social da esquerda abertzale onde a ETA tinha nascido e a opção desta pela violência. Em 2011, a ETA declara o fim da luta armada e inicia um estranho processo de paz (desarmamento unilateral em 2017, pedido de perdão no mês passado, e agora autodissolução), verificado por grupos internacionais (de que fazem parte, entre outros, Chris Maccabe, um dos negociadores britânicos do acordo de paz para a Irlanda do Norte); os governos espanhol e francês recusam-se, contudo, negociar termos semelhantes aos que aceitaram britânicos e colombianos, por exemplo.
Num contexto agudizado pelo movimento independentista catalão, poder político (governo do PP, Ciudadanos, PSOE), maioria dos media e organizações de representação das vítimas criadas à sombra do PP escolheram uma velha via que os espanhóis tragicamente conheceram sob os anos do Franquismo: vitória e vingança. Para Ramón Zallo (um académico que foi assessor do Governo basco), "os aparelhos do Estado espanhol", face à dissolução da ETA, têm asumido atitudes "provocadoras, indignas e estúpidas, [como se quisessem] o surgimento [de sequelas da ETA]". Para ele, "a pergunta a que cada um deverá responder sobre o passado é se esteve à altura das circunstâncias face ao franquismo e à Transição, face à ETA e aos seus desmandos, face ao terrorismo de Estado, e face a um Estado involucionista, centralista, antissocial e repressivo". (Deia, 3.5.2018)
Historiador

30 abril 2018

TRANSPARÊNCIA À MODA DA CÂMARA DE VRSA

e também algumas câmaras municipais, dizemos nós. Exemplo:



22 março 2018


Passou mais um Dia Mundial da Árvore e da Floresta (21 de Março) neste ano de 2018 no qual arderam centenas de milhares de hectares devido a factores climáticos mas, principalmente, por imperdoável incúria humana.
A perda de vidas humanas, de fauna e flora, e a seca que se verificou no país causaram profunda degradação do ambiente e da biodiversidade, e os prejuízos materiais e sociais são muito maiores que os subsídios e apoios que serão dados.
Estes nefastos desastres puseram a nu a insuficiência dos meios nacionais de combate e socorro existentes, a inexistência de planos de emergência e prevenção municipais ou evidenciaram outros ultrapassados ou caducos.
No meio de tanta desgraça um pequeno consolo, a Árvore Europeia de 2018 é portuguesa.


A Árvore Europeia de 2018 é um sobreiro “assobiador” português
A árvore portuguesa venceu a 8.ª edição do concurso europeu, ao qual concorreram 13 países. Mais do que uma árvore bonita, procurava-se uma árvore com história e ligada à comunidade. E isso o sobreiro português tem.
21 de Março de 2018
Um sobreiro português foi eleito esta quarta-feira Árvore Europeia de 2018. O Sobreiro Assobiador da aldeia de Águas de Moura, no concelho de Palmela, foi distinguido numa competição que envolveu mais 12 árvores de diferentes países europeus. A distinção foi anunciada ao final da tarde numa cerimónia no Parlamento Europeu, em Bruxelas, depois de uma votação online que decorreu em Fevereiro e contou com cerca de 200 mil votos. Em segundo e terceiro lugar ficaram ulmeiros espanhóis e um carvalho russo, respectivamente.

“Ficámos muito contentes. Acho que é muito importante para a floresta portuguesa e para o sobreiro, que é o nosso símbolo”, reage à vitória Nuno Calado, engenheiro florestal e secretário-geral da UNAC – União da Floresta Mediterrânea, responsável pela participação portuguesa. “Espero que este prémio alerte para a importância da floresta portuguesa e para os sistemas agro-florestais, como o sobreiro e o montado, porque são muito importantes para o Sul de Portugal.” Já o carvalho-comum (Quercus robur) tem cerca de 188 anos e cresceu numa área de protecção ambiental no Oeste da Rússia. “Sob a sua copa realizaram-se eventos públicos e celebrações”, lê-se no site, acrescentando-se que esta árvore testemunhou acontecimentos históricos ou que hoje se organizam flashmobs para se formarem corações à sua volta. 
Estima-se que a árvore vencedora tenha cerca de 234 anos 
 ao longo dos anos. Por exemplo, também lhe chamam “casamenteiro”, porque muitas gerações de apaixonados namoraram sob a sua copa. Nuno Calado destaca ainda que há uns anos grupos de ciganos casavam e faziam festas na sua sombra. Agora, mesmo no meio da aldeia de Águas de Moura, tem uns banquinhos e uma vedação de madeira feita pela Câmara Municipal de Palmela. Por isso, à tardinha, muitas pessoas sentam-se sob a sua copa a conversar e a usufruir daquele espaço.
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18 março 2018

VAMOS CONTAR UMA HISTÓRIA, A MORAL DECIDE QUEM A LÊ


Era uma vez um funcionário camarário que foi despedido por ser bom funcionário. O processo entrou em Tribunal que deu razão ao funcionário e todos os recursos camarários tiveram o mesmo fim: favoráveis ao funcionário.
Esta história lenta como é hábito na Justiça em Portugal, demorou vários anos desde de 11/10/2011 (data da sentença) até 14/09/2017 (fase de transito em julgado). A autarquia inclusive recorreu ao Tribunal Constitucional que não aceitou o recurso, facto comunicado à autarquia em 1/09/2017.
Terminada este calvário para o funcionário o município tinha 90 dias para cumprir a sentença e indemnizar o dito, coisa que não fez em desrespeito pela sentença do Tribunal desde 14/12/2017.
Quanto custou aos munícipes esta história que ainda não acabou? Estão envolvidos escritórios e advogados bem pagos, como por exemplo o de Morais Sarmento, um dos principais membros da "entourage" de Rui Rio.
Tanto quanto conhecemos o funcionário em causa pediu a palavra numa reunião pública e recente do executivo camarário, o que lhe foi negado.
Mais, segundo informação que nos foi dada, quem preside a essa autarquia garantiu ao próprio executivo que a câmara em questão não está em incumprimento, o que não sendo verdade parece ser intencional querer ocultar dos vereadores os factos, incluindo o de que a dívida ao funcionário encontra-se a vencer juros por falta de pagamento.
Outro aspecto desta história nada edificante que convém não esquecer é a de que um executivo camarário é um órgão colegial pelo que todos os seus elementos são responsáveis e não só quem preside.
Como acabará não sabemos, mas podemos tentar adivinhar quem são os intervenientes,será a câmara de VRSA e o funcionário o Srº Orlandino Rosa?

AMA

26 janeiro 2018

Relembrar António Tavares Rombo



António Tavares Rombo, beirão de Vila Velha de Ródão, faleceu em VRSA a 24 de Janeiro de 2017.
Foi sindicalista e combatente pela Liberdade e a Democracia.
Veio morar para VRSA e pelo concelho se enamorou e interessou e por ele participou em inúmeras iniciativas contra ilegalidades e abusos do poder local.
Pertenceu ao núcleo que criou a AMA e foi sempre um colaborador e participante empenhado na defesa do património histórico e ambiental concelhio. Assim o fossem a maioria dos naturais de VRSA.
Em sua memória a AMA fez uma romagem ao cemitério e depositou uma coroa de flores no seu túmulo. Os que lutam nunca estão ausentes.
AMA

10 janeiro 2018

01 janeiro 2018

INICIAR 2018 HOMENAGEANDO FERNANDO PESSOA

Um pioneiro na preservação e defesa do meio ambiente em Portugal. Alguém que há muito vem denunciando os problemas existentes, a incompetência e conivência dos governos e autarquias na destruição do nosso património ambiental de que a tragédia dos incêndios florestais há décadas é um exemplo criminoso dessa incúria.
As alterações climáticas, que hoje atingem todo o planeta Terra com terríveis desastres ambientais, irão continuar em 2018 dada a corrupção e dependência política de muitos governos de interesses económicos depredadores do ambiente e da vida.
Vozes autorizadas como a de Fernando Pessoa são cada vez mais necessárias. A nossa homenagem ao seu combate.
AMA

Fernando Pessoa, o arquitecto que plantou poesia na paisagem
Aprendeu arquitectura com Gonçalo Ribeiro Telles e fez da defesa do ambiente uma lição de vida e para a vida em liberdade. Fernando Santos Pessoa, octogenário, continua a “intervir na paisagem” e a desenhar jardins sem palmeiras nem relvados.
31 de Dezembro de 2017
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Ao pé de uma velha alfarrobeira, com mais de dois séculos, Fernando Pessoa mostra o seu trabalho mais recente: o percurso ecobotânico Manuel Gomes Guerreiro, um jardim in situ para dar a conhecer a história do barrocal algarvio, contada através das plantas. Ao completar 80 anos, um dos arquitectos paisagistas mais influentes da sua geração — herdeiro do legado de Gonçalo Ribeiro Telles — continua a trabalhar e a publicar. Intervir na Paisagem é o título do último livro. O seu legado, que se estende do Algarve ao Gerês, passando pela Madeira, levou a que a Universidade do Algarve (UAlg) lhe prestasse recentemente homenagem. Além de tudo o mais, é também um professor muito especial.
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Esta sua nova obra, um ecomuseu situado entre o barrocal e a serra do Caldeirão, vai mostrar como se cruzam as “paisagens culturais” com o património natural. “As alfarrobeiras, tal como os loureiros, são espécies — relíquias que ficaram do tempo em que o Mediterrâneo era tropical e subtropical”, diz o arquitecto, evocando a aridez do deserto do Norte de África, cada vez mais próxima . À entrada do terreno onde vai nascer o jardim, faz uma pausa, puxa pelo cachimbo. “É o meu vício”, confessa. A árvore, de pé rugoso, está debruçada sobre a montanha, como se fosse uma sentinela a indicar o percurso ecobotânico que ali vai nascer.
O projecto que assina, em co-autoria com João Marum, junta inovação (tecnologia 3D, concebida na Universidade do Algarve) com a arte mais tradicional de moldar a paisagem. Assim, o visitante, ao deambular pela montanha, fica, com a ajuda do telemóvel, a conhecer a história das plantas mais emblemáticas do barrocal. O botânico Rosa Pinto registou e identificou mais de 1700 espécies nesta zona do Algarve, sobretudo no vale da Fonte Benémola. “A flora do Algarve merece um lugar para ser estudada”, diz, evocando o papel destacado que teve Manuel Gomes Guerreiro, natural de Querença, enquanto cientista e defensor da floresta mediterrânica. A obra, com custo estimado em cerca de 200 mil euros, foi financiada pelo programa operacional do Algarve Cresc2020 e os trabalhos arrancam no primeiro trimestre do próximo ano.
O fundador e antigo presidente do Serviço Nacional de Parques e Reservas, actual Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, concebeu um jardim aproveitando plantas autóctones, o que lhe permite quase não precisar de rega. “A seca não está a ser levada a sério”, lamenta, insurgindo-se contra a “palmeirite aguda” e as grandes áreas de relvados que existem de norte a sul do país. “Espalhou-se a ideia de que uma paisagem turística exótica, sempre verde, e com muitas palmeiras, teria muitos mais atractivos para quem visita a região.”
Fernando Pessoa foi docente em várias academias, sendo co-fundador do curso de Arquitectura Paisagística da UAlg, onde leccionou durante dez anos. “Marcou a universidade para sempre”, afirmou o então reitor António Branco. “Colocou poesia na paisagem”, sintetizou. A prenda de aniversário, entregue durante a homenagem que lhe foi prestada pela Associação dos Arquitectos Paisagistas, não podia ser mais apropriada: Um carvalho-de-monchique (Quercus canariensis), espécie rara, ameaçada pelos fogos. O objectivo era que o exemplar fosse plantado no jardim da sua casa, mas vai ter outro destino. “Ofereci-o à Fundação Manuel Viegas Guerreiro (FMVG) para integrar o percurso ecobotânico — ali vai estar bem acompanhado”, comenta. 
Pai da ecomuseulogia
O conceito que agora está a pôr em prática — a ecomuseulogia — foi introduzido por este dinâmico arquitecto. Fernando Pessoa sempre assumiu, há muitos anos, uma nova linguagem na protecção e conservação do ambiente. “Toda a paisagem é cultural, [alterada pelo homem ao longo de séculos]”, sublinha. “A cultura e a identidade portuguesas fundaram-se na ruralidade e no mar — e ambas as origens daquilo que fomos ao longo dos séculos estão ameaçadas”, alerta.
Há quem lhe chame herdeiro de Gonçalo Ribeiro Telles, embora tenha traçado o seu próprio percurso, desbravando novos caminhos na sensibilização de todos para as questões ambientais. A relação de proximidade com aquele que foi o seu professor de Arquitectura Paisagista surge ainda durante as aulas, no início da década de 60. “Foi uma surpresa para mim, quando ele foi expulso do ensino — pensava que só os comunistas e republicanos é que eram presos, mas, tratando-se de um monárquico, não percebi o castigo”, observa.
A partir desse momento, haveria de nascer uma amizade que ainda hoje se mantém: “Quando ainda era estudante, fui trabalhar no seu atelier e vivi de perto as lutas que travou.” Mais tarde, quando se dá o 25 de Abril, Fernando Pessoa trabalhava na Direcção Regional de Urbanismo do Funchal, onde se bateu pela preservação das levadas. Um dia recebeu de Ribeiro Telles, o então novo secretário de Estado do Ambiente, um telefonema em jeito de ultimato: “Se não vier trabalhar comigo, nunca mais lhe falo.” Não foi preciso muita insistência, fez as malas e regressou ao continente, para ocupar o lugar de chefe de gabinete do novo titular de uma pasta governamental acabada de surgir: o ambiente. Na verdade, acrescenta, “também estava farto de ouvir Alberto João Jardim [chefe do governo da Madeira] praguejar contra os “cubanos do continente”. Apesar da ebulição política que o país então vivia, conseguiu lançar o instrumento que viria a ser o pilar das primeiras políticas de ordenamento do território — fundou e foi o primeiro presidente do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico, em 1976, hoje Instituto da Conservação da Natureza e Florestas.
O livro Intervir na Paisagem, que saiu há cerca de um mês, reproduz 33 textos escritos por Pessoa em diferentes períodos. A esta obra, com diferentes abordagens sobre as questões ambientais, juntam-se mais duas dezenas de títulos do mesmo autor. Os arquitectos paisagistas portugueses, observa, “nunca se deram muito ao trabalho de escrever, a não ser ocasionalmente em artigos de revistas ou para palestras”. Porém, constata, “existem colegas de grande qualidade e enorme projecção, que trabalham em vários países, e cuja actividade quase passa despercebida”. Por isso, tomou a iniciativa de divulgar os textos de Gonçalo Ribeiro Telles e Ilídio de Araújo, entre outros. 
Uma “gaiola” poluída
Na nota de introdução do livro, Jorge Paiva, catedrático da Universidade de Coimbra, elogia o trabalho dos que lutam contra “este estado de inconsciência global” em que se encontra o planeta. Fernando Pessoa é apontado como uma referência no universo dos que erguem a voz contra os atentados ambientais. “Foi e mantém-se um lutador incansável”, enfatiza. A maioria da população mundial, diz o académico, biólogo, “não faz a mínima ideia do que está a acontecer ao globo terrestre que, actualmente, não é mais do que uma ‘gaiola’ poluída”. A floresta, acrescenta, está reduzida a 20% daquela que existia quando a nossa espécie apareceu no globo. O resultado do desordenamento traduz-se no drama “do país a arder todos os Verões, entre muitos outros”. 
Os fogos e a seca têm estado no centro das intervenções de Fernando Pessoa, que fez dos ensinamentos de Gonçalo Ribeiro Telles uma cartilha e um exemplo de humildade para encarar a natureza. “Não existe no ADN da maioria dos políticos o gene da sabedoria do longo prazo — todos querem fazer figura rapidamente”, escreveu, no PÚBLICO, em 2016, chamando a atenção para o (des)ordenamento do território. A floresta e a mata, enfatiza, “são realidades de longo prazo, donde a dificuldade dos políticos em decidirem políticas de reconversão florestal que não darão votos a curto prazo”. 
Apesar de os políticos reconhecerem que há sérios problemas ambientais, como as alterações climáticas, têm de passar das palavras ao actos, insiste. “É preciso um ministério do Ambiente com convicções ambientalistas e não um mero executor de medidas desgarradas e antiecológicas”, escreveu no seu blogue, criticando muitas das decisões que foram tomadas nas últimas décadas: “Os Serviços Florestais eram um dos mais prestigiados e antigos órgãos da administração pública, vinham do tempo da monarquia e hoje desapareceram como entidade autónoma”, alertou.
Em relação à lei da Reserva Ecológica Nacional (REN), dá razão a quem critica a forma como está ser utilizada. “A REN é aplicada como se fosse um conjunto de regras uniformes para todo o país e não, como é o seu espírito, de normas adaptáveis regional e localmente”, aponta.
De entre os livros publicados por Fernando Pessoa, destacam-se duas obras: Fotobiografia de Manuel Gomes Guerreiro, em 2007, e Fotobiografia de Gonçalo Ribeiro Telles, em 2011 — duas figuras de referência no ambiente em Portugal. O primeiro, no seu livro O Homem na Perspectiva Ecológica, escreveu: “Ao delimitá-los [jardins] e preservá-los, está-se a contribuir para que neles o Homem aprenda a conhecer, a respirar e a amar a Natureza. Só assim poderá sobreviver.” Agora vai surgir um “percurso ecobotânico”, com o seu nome, na aldeia (Querença), onde nasceu Gomes Guerreiro, que foi o primeiro reitor da Universidade do Algarve.
Os passeios no areal da ria Formosa, seguidos de banhos de mar — faça chuva ou faça frio — parecem ser a fonte de juventude deste octagenário. Oito décadas em que, além de deixar uma pegada indelével na defesa do ambiente no país, foi inspiração para muitos, que hoje lhe seguem os passos na luta para que o homem pare de destruir a única “casa” que tem para habitar.
tp.ocilbup@zeveri